Divagação nº 1: O tripulante do foguete.
Hoje por mais que eu tente descrever sobre o estado morfofisiológico sintético social do meu ego, poucas serão as palavras que literalmente expressarão a realidade cósmica e mística que ele se encontra.
Tenho experimentado de tudo um pouco nesta vida desde a sobriedade da ciência até a embriaguez do amor, porém, nestes últimos dias um turbilhão extremamente revolto de sensações racionais e emocionais está a abater-me os sentidos.
Creio que meu ego conseguiu perfurar a barreira limítrofe que separa o céu da terra e escapar para o infinito.
Só que é tão torpe e desvirtuado o fato que gerou este rompimento que não sei se fico feliz ou triste.
Talvez nem feliz, nem triste.
Dormente, anestesiada.
Obs: Esta divagação esta incompleta. Talvez continue num outro número.
Divagação nº 2 : Ato de amor.
O pintor olha pra tela em branco.
E vê o branco.
Vira a tela.
O branco continua sendo branco.
Absurdamente branco.
Sentimentos sucessivos de inspiração e latência o invadem quando fixa seu olhar.
Mas a tela interfere na representatividade humana do pintor.
Ele e a tela se fundem num mesmo plano superior, colorido e surreal.
Ele tenta entender.
Ela tenta se mostrar.
Nua, completamente nua parada em sua frente, ele em pé.
Súbito toma uma decisão.
Parte pra conquista.
Muda o lugar, a luminosidade.
Os sentimentos sucessivos inconstantes transformam-se em um único e obsessivo desejo.
Cravado.
Radical.
Não muda mais a posição.
Começa a surgir na mente a forma, sucessivamente a cor, depois o sentido, o objetivo.
A tela esta ali, nua.
Pronta pra ser tocada em pinceladas suaves e intensas.
Ele se perde em divagações, sobe até outro mundo, cai e mergulha no meio do redemoinho.
Encosta na terra.
Dança livremente no telhado molhado de chuva.
Grita, chora, sorri.
Sussura, estremeçe.
Se esqueçe.
E devagar ele veste a tela.
Termina seu trabalho com o completo sentimento de missão cumprida.
Senta e fica observando cada detalhe, cada curva, cada relevo, cada centímetro quadrado.
Acende um cigarro.
Contempla.
Pega seu chapéu e sai pra tomar um café num bar qualquer.
Divagação nº3: A crise existencial historiográfica.
Tudo aqui nesta casa parece normal. Quadros na parede. Luz indireta de luminária num canto estratégico da sala. Cozinha com duas bicicletas encostadas na parede ao lado da porta. Em cima da mesa está pintado a impressão de um luar, podendo significar também um pôr-do-sol. Cadeiras de madeira das quais uma segura a porta para não bater. Na outra cadeira falta um pedaço das madeiras do acento formando um vão entre o final da bunda e o começo da perna, nada mais natural. A lavanderia por sua vez tem obviamente baldes, panos de chão, produtos de limpeza, roupas dependuradas no varal, mesa, cavalete e tintas dos mais variados tipos. È uma lavanderia misturada com atelier de artista plástico egocêntrico no começo de carreira. Tudo tranqüilo. Sossegado.
Na parte de fora da casa fica pendurada a rede. Nos ganchos um fio de varal, (que não é realmente um fio de varal tradicional) com uma única peça pendurada que é uma capa de colchão. Tem uma bola de futebol americano e uma bola de basquete no chão da sala. Um vaso de vidro cheio de papéis em forma de recadinhos, uma lixa de unha, uma resistência de chuveiro, canetas e baralhos. Observe, tudo dentro de um vaso de vidro com apenas uns 15 cm de altura e 10 cm de largura em cima de uma mesinha de centro verde. Tudo na mais perfeita harmonia. O ventilador de um dos quartos liga sozinho, os ratos pensam que a casa e a comida é deles também, e a geladeira precisa ser limpada a cada 7 dias senão fica impossível abrir a tampa, tirar ou por alguma coisa no congelador, sem arrancar algum pedaço de gelo enorme.
Você meu caro leitor imaginário do futuro deve estar se perguntando: e a crise historiográfica? Isso falarei na próxima divagação por que a moradora desta casa que é à que escreve essa divagação cansou e precisa dormir.
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